Desnutrição e Infecções: Perceber a relação

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Prof. James Renner and Prof. Roger Andrianasolo

Introdução
Nutrição tem implicado em várias doenças, incluindo infecções. Os dados clínicos e epidemiológicos indicam que a desnutrição predispõe à infecção. O reciproco de que a infecção pode levar à desnutrição também é verdadeiro. A protecção contra infecções é reforçada por uma boa nutrição. Qual é então a relação entre elas?

Nutrição, saúde e doença
O papel da nutrição na prevenção de doenças e manutenção da saúde já não está em dúvida. Ela desempenha um papel muito importante na saúde desde a concepção até a idadeˡ. Tem se associado a má nutrição à doenças crónicas, tais como síndromes metabólicas, asma brônquica, alergia, doenças neoplásicas e doenças coronárias, para mencionar algumas. Os nutrientes, que consistem em macro e micronutrientes devem ser consumidos na quantidade e qualidade adequadas para serem úteis. Existem várias razões pelas quais não pode sempre ser possível consumir nutrientes de qualidade, particularmente em economias com privações e mais ainda em crianças nessas comunidades. Significativamente, a pobreza e a ignorância, as principais razões para isso; a segurança alimentar e nutricional, jogam papéis principais nisso, tendo a desnutrição como resultado.

Muitas das vezes quando o tema da privação nutricional é abordado, a enfâse é infelizmente articulada em macronutrientes (carbo-hidratros, lípidos e proteína). Enquanto esses forem úteis, deverá ter-se em mente que os micronutrientes que são as vitaminas (solúveis em água e gordura) e oligoelementos (como o zinco, selénio, ferro e iodo) melhoram as funções dos macronutrientes por causa da interacção das sinergias. Por exemplo, o metabolismo de carboidratos é melhorado pela tiamina, cuja carência, causa beriberi. Existem muitos outros exemplos que poderiam ser dados mas o tempo e espaço autorizados não permitem uma elaboração mais avançada. Para prevenir a desnutrição, deve ser dada atenção ao consumo tanto de macronutrientes como de micronutriente.

Desnutrição, Infecção e Imunologia
A defesa do hospedeiro contra a infecção depende do estado imunológico específico e de factores não-específicos de resistência. O sistema imunológico consiste nas células B humoral (derivadas da medula óssea) e células T (derivada do timos), defesa das células. As células B são responsáveis pela produção de imunoglobulinas com funções identificadas e pela produção de anticorpos. Por outro lado, a célula T é responsável pela imunidade mediada por células tais como o retardamento da hipersensibilidade, rejeição de enxertos e cito toxicidade. As células T e B e os seus produtos paralelos com os macrófagos, sistema complementar, estão envolvidos na protecção contra a infecção. O mecanismo de acção desses sistemas envolve enzimas que são proteínas.

Estes receptores envolveriam elementos tais como zinco e o ferro e sais minerais, tais como magnésio e cálcio, só para mencionar alguns. Também será necessário energia a partir de carboidratos e gordura. Estes têm de ser fornecidos a partir de nutrientes, em quantidade e qualidade suficiente para garantir que o sistema de defesa é óptimo, caso contrário, a vulnerabilidade à infecção é alta.

A infecção, ao contrário, não importa o quão leve, pode antecipar a desnutrição. Ela leva à perda de apetite, aumentando a taxa do metabolismo. Há também a perda de nutrientes nas fezes como na gastroenterite. Doenças virais graves como o sarampo, geralmente resultam em desnutrição em crianças. Agora é possível atenuar a gravidade da doença e, possivelmente, evitar essas consequências com a profilaxia de vitamina A e suplementação com zinco. Achou-se isso bastante útil para atenuar as infecções respiratórias agudas e em doenças diarreicas agudas.

A partir do acima exposto, sem dúvida, pode-se concluir que a infecção pode levar a desnutrição e vice-versa³. Este é um ciclo vicioso que pode ser quebrado. A relação é obviamente imunológica 4,5,6. O problema é predominantemente um dos desafios das crianças com idade inferior a cinco anos nos países em desenvolvimento. Melhorar o estado nutricional das crianças e implementar os programas de imunização será um grande passo para enfrentar os desafios. Outros aspectos de controlo da infecção não podem ser ignorados.

Água e saneamento, incluindo a disponibilidade de água potável, disposição adequada de lixo e dejectos humanos, moradia adequada e segurança alimentar e nutricional percorrerão um longo caminho para fazer parte da Solução³. 

O aleitamento materno exclusivo durante os primeiros seis meses de vida e prestação de alimentos complementares adequados, enquanto se continua com o aleitamento materno, são uma actividade indispensável que tem sido mostrada para ajudar a proteger contra a infecções e reduzir a morbidade e mortalidade7.

Conclusão
A depleção nutricional que conduz à desnutrição, prejudica a resistência do organismo à infecções. Por outro lado, as infecções não importam quão leves, têm um efeito significativo sobre o estado nutricional. O mecanismo deste ciclo vicioso foi elucidado em grande medida. Os vários componentes do sistema de defesa contra infecções, requerem uma nutrição adequada para uma função óptima. Na depleção nutricional essa protecção é prejudicada. A saída é óbvia, - nutrição reforçada e melhoria do estado imunológico.

Referências

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  • Cesar G. Victora, Linda Adair, Caroline Fall, Pedro C Hallal, Reynaldo Martorell, Richter, Harshpal Singh Sachdev. Sub-nutrição Materna e Infantil: consequências para a saúde do adulto e capital humano. Lancet 2008; 371: 340 – 57. Published online 2008 DO1:10. 1016/S0140-6736 (07)61692-4. Segunda série de 5 documentos
  • P. Bhaskaram.O ciclo vicioso da desnutrição-infecção com referência especial na diarréia, sarampo e tuberculose. Pediatras Indianos. Volume 29; June 1992: 805-812
  • Gerald T. Keusch. A história da nutrição: desnutrição e imunidade. J. Nutr. Jan. 1 2003. Vol 133; no.1: 336 s – 340s.
  • Keith P. West Jr. Interacção entre nutrição e infecção nos paises em desenvolvimento. John Hopkins. BLOOMBERG. School of Public Health. 2007
  • Interacção entre o estado nutricional e infeccões. N.S SCRIMSHAW, C.E. TAYLOR & J.E. GORDON. Organização Mundial da Saúde. Monografia.Series N° 57, Geneva 1971.
  • Alimentação Complementar de crianças em países em desenvolvimento: revisão do actual conhecimento científico. WHO/NUT/98.1-Organização Mundial da Saúde, Geneva 1998.