INTERVENÇÕES NUTRICIONAIS PARA DIMINUIR A PREVALÊNCIA DO EXCESSO DE PESO E OBESIDADE INFANTIL
(PREPARADO POR CECILE VAN NIEKERK SOB A SUPERVISÃO DE GERDA GERICKE E ZELDA WHITE)
Há muitas intervenções para a prevenção do excesso de peso e obesidade infantil. A obesidade por si só é uma doença e necessita de uma intervenção mesmo que não estejam presentes morbidades associadas. Existem três níveis de prevenção, ou seja, a prevenção universal que incide sobre a população em geral, a prevenção selectiva que se concentra em grupos populacionais de alto risco e prevenção específica que incide sobre indivíduos que são diagnosticados com excesso de peso.
A mudança de estilo de vida é a questão mais importante para resolver quando o objectivo é prevenir a obesidade infantil. O controlo do peso corporal é o centro da mesma e deve ser composto por metas razoáveis de peso, com um componente de alimentação saudável, componente actividade física, assim como componente psicológico e comportamental. Cada plano de tratamento deve ser individualizado, realista e sustentável e deve contribuir para o bem-estar geral.
A Consultoria Especializada da OMS sobre a obesidade, identificou programas de prevenção da obesidade pública como prioridades de acção imediata. Tais programas são baseados em princípios onde a intervenção é com foco em educação e, principalmente, aborda os factores ambientais e sociais para promover e apoiar a mudança de comportamento. Ele também inclui a educação sobre o aumento da actividade física, a integração de novas iniciativas no âmbito dos programas existentes, que são todas baseadas em evidências científicas e são adequadamente monitoradas, avaliadas e documentadas. Para garantir a sustentabilidade dos programas de prevenção e de cuidados de saúde primários, os programas devem assegurar uma melhoria na ingestão alimentar, actividade física e os níveis de obesidade ao longo do tempo. Isso requer o apoio de partidos políticos, bem como a colaboração intersectorial e participação da comunidade, que são todos factores essenciais para o sucesso.
O modo de execução dos programas de prevenção também deve ser considerado. As possibilidades incluem as configurações do grupo de iniciativa própria, visto como programas de auto-ajuda, também programas não clínicos fornecidos por profissionais aos grupos ou pessoas individuais, e programas clínicos fornecidos por profissionais de saúde inscritos, para outros profissionais, grupos ou indivíduos.
Ajuste para a educação em saúde
A escola é o ambiente ideal para a realização de intervenções sobre a obesidade infantil porque as escolas já estão estruturadas com ambientes para actividades de promoção da saúde. Uma grande parte da população é representada por crianças em idade escolar e estão disponíveis ao longo de períodos prolongados de tempo num ambiente onde a educação e a aprendizagem é a norma. Há também algumas evidências de que o envolvimento da família em programas de promoção da saúde pode influenciar positivamente a comunidade em geral. O desempenho do ensino e da aprendizagem de crianças em idade escolar pode ser melhorado quando o seu estado geral de saúde é melhorado através da educação em saúde.
A partir do PEACH RCT realizado com crianças pré-adolescentes obesas, foi observado que as estratégias mais eficazes de controlo de peso foram as abordagens que se focalizaram nos pais a assumir a responsabilidade exclusiva pela execução das estratégias. A perda relativa de peso de 10%, foi observada e mantida por dois anos a partir da linha de base. Incluindo, portanto, os pais em estratégias de gestão de peso, pode ser uma estratégia secundária eficaz de prevenção da obesidade. Além disso, as crianças são altamente dependentes de seus pais, que controlam, em grande medida a comida servida em casa. Quando o alimento nutritivo correcto está em casa, são reduzidos os estímulos ambientais para comer alto teor de gordura, alimentos altamente energéticos, e é reforçado o estímulo de seguir um regime alimentar saudável. Os membros da família podem servir como bons modelos para uma alimentação adequada e incentivar comportamentos saudáveis na criança. As crianças também imitam frequentemente os hábitos alimentares dos pais. Os pais devem, portanto, ser solidários com os seus filhos e os próprios modelos. Os pais não devem importunar ou criticar sobre questões alimentares e de peso, e devem sim contrariamente elogiá-los quando são observados comportamentos alimentares correctos.
Educação focada no Comportamento
É adequado a utilização da educação sobre nutrição focada no comportamento, incluindo a aprendizagem cognitiva (como escolher uma dieta saudável), o ensino afectivo (motivação para a mudança) com componentes comportamentais (seleccionando novas escolhas alimentares). Estudos indicam que as intervenções que incidem sobre as mudanças específicas de comportamento, podem resultar em mais mudanças do que uma abordagem mais geral de educação nutricional. A teoria da aprendizagem social (SLT) enfatiza a interacção entre factores individuais, ambientais e comportamentais e é popular para intervenções escolares que promovem mudanças na actividade física e alimentação saudável. A maioria dos programas de educação nutricional nos estudos de melhores resultados clínicos, que resultaram na mudança de comportamento, usou estratégias de ensino com base no SLT, o que sugere que a maioria dos comportamentos de saúde é aprendida num contexto social. Em tais programas o conhecimento crescente deve ser apenas um dos muitos objectivos. O conhecimento nutricional por si só não vai permitir que uma pessoa jovem adopte comportamentos alimentares saudáveis.
Embora se tenha descoberto que a associação entre conhecimento nutricional e comportamento é fraca, foi relatado que o conhecimento sobre nutrição permanece vital para o sucesso. Portanto, são necessárias as abordagens centradas no comportamento, por exemplo, a construção de habilidade, o estabelecimento de metas e experiências de melhoria de eficácia. Mudanças de comportamento podem não ser acolhidas se o ambiente escolar não suportar as mudanças e o ambiente em casa não reforçar as intenções. Descobriu-se que em classes mais jovens, os programas baseados na família foram mais eficazes do que para os alunos do ensino médio.
São preferidas estratégias educativas que envolvem activamente os alunos, do que técnicas passivas indesejáveis. A curiosidade pode ser estimulada com uma fantasia de um jogo ou quebra-cabeças, bem como música, cores brilhantes ou efeitos visuais. Para estimular a curiosidade cognitiva vários níveis de dificuldade podem ser usados, tais como a competição, bingo de nutrição ou gincanas. Tópicos considerados essenciais para crianças em idade escolar podem incluir o guia da pirâmide alimentar, os benefícios de uma alimentação saudável, escolhas alimentares saudáveis e preparação de refeições e lanches, comer uma variedade de alimentos, comer mais frutas, legumes, grãos e alimentos ricos em cálcio, comer menos gordura saturada, alimentos gordurosos, açúcar e sal, ler e interpretar os rótulos dos alimentos, equilibrar a ingestão de alimentos com a actividade física, aceitando as diferenças de tamanho corporal e práticas de segurança alimentar.
Num estudo (estudo de intervenção MARG) a intervenção da educação para crianças de oito a dez anos, tinha palestras realizadas em apresentações de fácil compreensão, feitas em power-point, com personagens de desenhos animados, imagens e citações interessantes. As palestras foram seguidas de discussões interactivas onde a nutricionista abordou questões relacionadas com a nutrição, feitas pelos alunos e seus pais.
Foi distribuído um atraente folheto informativo de fácil compreensão, como material para levar para casa para reforçar as lições aprendidas através das palestras e discussões em grupo.
Cada lição do curriculum PATHWAYS incluía entre três a quarto actividades por classe, que consistia em 2 sessões de 45 minutos por semana, para um total de 12 semanas. O curriculum foi desenvolvido por um grupo de trabalho composto por equipas multidisciplinares de universidades representadas, nações Américo indianas e professores. A classe MESTRA curricular incluía aulas adequadas sobre cultura que consistia no conhecimento tribal, mapas das nações PATHWAYS, e histórias Américo indianas. As actividades realizadas nas salas de aula como as levadas para casa, eram desenvolvidas para promover o comportamento de uma alimentação saudável e melhorar os níveis de actividade física. Foi estabelecido um ambiente de melhoria no interesse do aluno, com cassetes gravadas com músicas Américo Indianas de Flauta, no início de cada aula. As aulas focalizavam-se na importância de uma vida saudável e equilibrada e não na prevenção da obesidade como tal. Algumas actividades PATHWAYS ajudaram os alunos a definir os objectivos pessoais, preparar lanches saudáveis, provar novos alimentos e por último a fazerem escolhas de alimentos saudáveis e serem fisicamente activos, planeando jogos culturais durante o intervalo dos exercícios.
Melhores resultados clínicos de intervenções para a prevenção do excesso de peso e obesidade infantil.
Foram compiladas para a OMS, tabelas de provas sobre as intervenções para melhorar a dieta e a actividade física. “Intervenções sobre dieta e actividade física: O que funciona” abordagem da responsabilidade da OMS e dos parceiros do mundo a tomarem acção para melhorar a ingestão da dieta para melhorar a actividade física. Trezentos e noventa e cinco estudos revistos por pares, preencheram os critérios de inclusão, que foram depois resumidos numa tabela, apresentada em oito categorias nomeadamente política e ambiente, meios de comunicação, ambiente escolar o local de trabalho, a comunidade, cuidados primários de saúde, idosos e comunidades religiosas. A informação foi usada nas partes aplicáveis da intervenção, em três medidas de resultados primários, e com base no critério que deverá ser útil para os decisores políticos que buscam uma intervenção na dieta e actividade física.
A melhor prática é definida pela OMS como "provavelmente sendo eficaz e refere-se a estudos/intervenções que tenham tipicamente sido baseadas em avaliação formativa com um modelo experimental ou amostra de um estudo de largo espectro e com efeitos significantes e substantivos em resultados variáveis específicos. "Estudos de melhores práticas podem ser aplicados.
Numerosos estudos têm sido classificados como melhores práticas em relação ao comportamento incluindo PATHWAYS, CATCH, High-5, KYBP, comer bem e continuar em movimento, Começo Saudável e teste Squire. A intervenção PATHWAYS coloca grande ênfase na identidade cultural e foi baseado na teoria de aprendizagem social com um programa compreensivo envolvendo professores, pais, crianças e catinas escolares. O CATCH focalizou-se em pessoal de serviços alimentares e directores para menor consumo de gordura total, gordura saturada e sódio nas refeições escolares com bons resultados, em que mesmo depois de 5 anos, 50% das intervenções escolares ainda cumpriam com o objectivo de consumir alimentos com baixo teor de gordura, comparado com 10% do controlo das escolas. O projecto High-5 é muito semelhante ao PATHWAYS com foco no envolvimento dos pais, no curriculum escolar assim como na componente de serviços alimentares e verificou-se aumentos significativos no consumo de fruta, legumes, fibra, beta-caroteno, e vitamina C. O teste Squire´s foi um jogo interactivo vocacionado para crianças de escolas primárias onde as mesmas se encontravam a participar nestes jogos de multimédia, aumentando significativamente os seus consumos em vegetais e fruta com uma refeição diária acima da ingestão do grupo de controlo.
Concluindo, para mudar com sucesso o comportamento de ouvir, as intervenções têm que ter como objectivo modificar o comportamento alimentar das crianças em relação aos factores individuais, comportamentais e ambientais. As intervenções escolares podem ter os melhores resultados comportamentais práticos/ou psico-sociais se for oferecido a escola um curriculum nutricional, por professores formados e que também inclua um programa/componente de actividade física, assim como uma componente familiar/pai e mãe.
Referências:
- Organização Mundial da Saúde 2009. Intervenção na dieta e actividade física: O que funciona? Relatório resumido http://www.who.int/dietphysicalactivity/whatworks
- Kruger HS, Puoane T, Senekal M, van der Merwe MT. Obesity in South Africa: Desafios para os profissionais do governo e da saúde Nutr. 2005; 8(5):491-500.
- Summerbell CD, Ashton V, Campbell KJ et al, Intervenções para tratar a obesidade em crianças. Cochrane Database Syst Rev. 2003; (3): CD001872.
- Steyn NP, Bradshaw D, Norman R, Joubert JD, Schneider M, Steyn K. Mudanças alimentares e transição da saúde na África do Sul: Implicações para a Política de Saúde. Cidade do Cabo: Conselho Médico de Pesquisa da África do Sul, 2006.
- American Dietetic Association. Posição da Associação Dietética Americana: Orientação Nutricional para Crianças Saudáveis entre os 2 e os 11 anos de idade. J Am Diet Assoc. 2008; 108: 1038-1047.
- Magarey AM, Perry RA, Baur LA, Steinbeck KS, Sawyer M et al. Um programa de tratamento liderado pelos pais, focado na família, para crianças com excesso de peso entre os 5 e 9 anos de idade O PEACH RCT. Pediatrics 2011; 127:214-222.
- Stevens J, Cornell CE, Story M, French S, Levin S et al. Desenvolvimento de um questionário para avaliar o conhecimento, attitudes e comportamentos de crianças Americanas de origem indiana. Am J ClinNutr. 1999; 69(suppl): 773S-81S.
- Holli BB, Calabrese RJ, O’Sullivan Maillet J. Habilidade de Comunicação e educação para os nutricionistas, 4º ed. Baltimore: Lippincott Williams& Wilkins, 2003.
- Edmundson E, Parcel GS, Perry CL, Feldman HA, Smyth M et al. Efeitos do teste para a Saúde Cardiovascular em crianças e adolescenetes (CATCH) na ingestão de frutos e vegetais. Revista sobre Nutrição 1998, 30(6):354–360.
- Davis SM, Clay T, Smyth M, Gottelsohn J, Arviso V et al. curriculum e intervenção familiar para promover a alimentação saudável e actividade física em alunos americanos de origem indiana. Prev Med. 2003, 37:S24–S34.
- Shah P, Misra A, Gupta N et al. Melhoria no conhecimento e comportamento relacionado com a nutrição, por parte dos alunos asiáticos e indianos: resultados da "educação médica para crianças / adolescentes para a prevenção realista da obesidade e diabetes para um Envelhecimento saudável (MARG) Estudo de intervenção. Br J Nutr. 2010; 104: 427-436.
- Caballero B, Clay T, Davis SM, Ethelbah B, Rock BH et al. PATHWAYS: um estudo randomizado controlado com base na escola para a prevenção da obesidade em alunos Americano-indiano Am J of ClinNutr, 2003, 78(5):1030–1038.
- Stevens J, Story M, Ring K, Murray DM, Cornell CE et al. impacto da intervenção de variáveis psico-sociais relacionados à dieta e actividade física em alunos americano-indianos. Medicina Preventiva, 2003, 37(6):S70–S79.
- Draper CE, de Villiers A, Lambert EV, Fourie J et al. HealthKick: a nutrição e a intervenção da actividade física para escolas primárias em ambientes de baixa renda BMC Public Health 2010; 10:398-99.
If you liked this post you may also like